domingo, dezembro 24, 2006

Contratos Verbais na linguagem do amor


As decisões que assumimos ao longo de nosso percurso neste planeta nos dão à medida exata do nosso crescimento interior. Não são poucas as vezes que assumimos mais encargos do que poderíamos carregar. Compramos mais do que podemos pagar. Fazemos acordos que não podemos honrar. Essas dívidas vão se multiplicando pelo nosso caminho à medida que não percebemos o rastro que deixamos para trás. É muito comum quando criança dizer – mãe, pai, eu nunca vou deixar vocês. Crescemos e a primeira coisa que pensamos e ter nosso próprio espaço. Ao nosso primeiro namorado falamos – vou te amar a vida inteira. Amadurecemos um pouco mais e nos apaixonamos por outro. E assim vamos indo. Eu juro que nunca mais farei isso, aquilo, aquilo outro. Na primeira oportunidade tornamos a fazer. Eu observo que a alma humana possui uma incrível necessidade de repetir seus erros e reafirmá-los periodicamente. Os homens mentem. Mas na hora em que assumiam tais posturas, será que realmente mentiam ou a circunstância naquele momento os tornava verdadeiros. Se a intenção verbalizada era correta o que acontece então? Acredito que entra a conjuntura das circunstancias. Assim como somos formados por ciclos, nossas decisões e ações também são baseadas nos ciclos vividos. Somos efêmeros, conjunturais e limitados. Repetimos erros sempre com a esperança de que não se tornem erros. No entanto para compreendermos a limitação das inúmeras vivências é necessária a mais profunda maturidade. Uma maturidade que se adquire na velhice ou então com base em situações sofredoras. Todos esses questionamentos me ocorrem porque certa vez alguém me disse – não tem idéia de quanto significa para mim. Eu, frente a essa frase, me coloquei na mais absoluta situação de segurança. Acreditei profundamente nestas palavras. Mas no decorrer do tempo elas não se tornaram tão verdadeiras quanto o momento passado. Essa pessoa é mentirosa. Não. É um homem íntegro que naquele momento estava me falando do fundo de seu coração, mas passado essa situação entrou a conjuntura da relação. O que se faz. Se aceita. A nossa vida é, foi e será sempre formada por momentos. Na maioria das vezes, esses momentos duram pouco tempo. Acredito que a sabedoria consiste em viver muitos bons momentos durante uma vida. Aceitar que a vida se transmuta que os acordos se rompem que os erros podem se repetir. Isso faz parte do aprendizado, embora seja difícil e doloroso.

domingo, dezembro 17, 2006

O silêncio dos quase inocentes


Penso no silêncio. No silêncio constrangedor, no silêncio necessário, no silêncio aprendizado e na absoluta falta de som do universo, simplesmente silêncio. Às vezes o silêncio incomoda, outras vezes o silêncio nos trás paz e algumas vezes o silêncio nos ensina. Existe também o medo do silêncio. É o silêncio aterrador. O silêncio que nos oprime, o silêncio que nos mata. Mas afinal quando sentimos isso? Muitas vezes – principalmente quando esse silêncio de um jeito ou de outro mede o nosso desempenho. Quando esperamos por som ao invés de silêncio. Quando pensamos em barulho, de chuva após um dia muito quente, de risos, de crianças, de alegria, do vento, do mar e das nossas lembranças. Barulho de uma voz nos dizendo alguma coisa, qualquer coisa. Nada, no entanto é mais triste e melancólico do que sentir o silêncio das pessoas que amamos. Sentirmos o silêncio dos filhos quando os esperamos barulhentos e famintos. Sentir o silêncio dos amigos quando temos tanta coisa pra contar e o silêncio de quem ama quando o aguardávamos alegres e sorridentes. É difícil aceitar o silêncio de quem amamos quando temos tanta vontade de manifestar nosso carinho. O silêncio nesse caso funciona como uma couraça questionadora, o que eu fiz de errado? Será que eu disse algo que o magoou. Porque meus filhos estão tão calados, será que estão com problemas sérios e eu não havia percebido? Faz tanto tempo que não vejo essa amiga e ela quase não fala? Deve ser alguma coisa que eu fiz e disse na última vez que nos encontramos. Só pode ter algum tipo de problema comigo, porque ele, ela, eles, elas se calam quando eu o, os estou aguardando manifestando toda a sua alegria e felicidade através de um barulho, de um riso, de uma gargalhada, de um telefonema, de um som. Na realidade você, eu, ele nós, não fizemos nada errado ou até tenhamos feito, a tentativa de manifestar através do som algo que somente se manifesta no silêncio. Eu fico lembrando em todas as vezes que estava num profundo estado de silêncio, sem desejo algum de conversar com qualquer pessoa, mas os compromissos do dia-a-dia não permitiam que eu ficasse nessa imobilidade por muito tempo. Saia de casa silenciosa e chegava ao local determinado com um sorriso, conversando muito, porém quando voltava a casa manifestava o meu mutismo a minha mãe, meu pai ou a minha filha. Vocês já perceberam como é fácil ficar em silêncio na frente das pessoas que sabemos que nos amam profundamente – por quê? Talvez porque saibamos que somente quem nos ama realmente é capaz de aceitar o nosso silêncio e porque infelizmente também é mais fácil magoar quem amamos. Sabem por quê? Porque quem ama nos aceita de forma e do jeito que somos. Somente quem nos ama de verdade é capaz de entender o silêncio mesmo que machuque que questione que maltrata que preocupe. Talvez tenha nesse silêncio uma mensagem implícita – eu sei que você me ama por isso aceite meu silêncio porque com você sou capaz de compartilhá-lo.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

A Busca da Alma Gêmea


Há muitos e muitos anos atrás o homem possuía em si, o masculino e o feminino. Era uma época que a humanidade era constituída de gigantes. Esses gigantes começaram então a tomar gosto pelo poder e desafiaram os Deuses que indignados com tanta pretensão resolveram separar o masculino do feminino. O castigo aos humanos seria passar a vida inteira procurando a sua outra parte, procurando o seu complemento que o faria inteiro novamente. Essa lenda, eu li em algum lugar, mas ela esta presente no cotidiano de todas as pessoas. Como almejamos encontrar um companheiro que, se possível nos entenda até através da telepatia. Um companheiro que possua tantas semelhanças, que viveremos felizes para sempre. Será? É isso que representa a outra parte, é isso que representa a alma gêmea. Há uns meses atrás eu também pensava assim até encontrar a minha. Encontrei um homem que é muito muito parecido comigo. Até mesmo os seus desejos profundos de liberdade são tão idênticos aos meus. Seu histórico de vida também é muito semelhante ao meu. Um homem dos meus sonhos. É um caso de amor. Um caso antigo, que vem de épocas passadas. No entanto não estou vivendo um conto de fadas, mesmo tendo certeza absoluta que ele é a parte que faltava em mim. Mas tenho vivido momentos de profundas descobertas a respeito de mim mesmas, onde havia bloqueios, limitações, agora eu enxergo expansão, liberdade. Se antes de encontrá-lo eu pensava que para ser feliz, eu precisava de um companheiro, hoje não penso mais. Descobri que precisamos antes de tudo, aparar as arestas da nossa própria vida. Não precisamos de alguém que nos sustente, precisamos de alguém que nos ajude a descobrir os meios para tal. Não precisamos de alguém que nos defenda, precisamos de alguém que nos faça enxergar a nossa verdadeira força interior. Não precisamos de alguém em que possamos lançar nossa carência afetiva, mas sim de alguém que nos ajude a compreender o porquê de determinada situação. Precisamos de alguém que tenha paciência de nos acompanhar mesmo quando mostramos a nossa imaturidade, nossos conflitos e até mesmo nossos valores confusos. Pode parecer paradoxal, mas através da minha alma gêmea, eu estou descobrindo que não preciso de ninguém pra ser feliz. E ai reside o meu grande ganho. No momento em que eu sei que posso contar comigo mesma, que não é necessário nenhuma forma de dependência, os meus laços com a minha outra parte ficam mais fortalecidos. Talvez tenha começado a fazer sentido uma frase que de certa forma pra mim representava uma incógnita – O verdadeiro amor não nos prende, mas nos liberta. Essa liberdade vem quando percebemos que toda a insegurança é fruto do desamor e da carência, jamais do verdadeiro amor. O maravilhoso de tudo é a visão da nossa liberdade interior e a possibilidade infinita de sabermos que aconteça o que acontecer, esse ser encantado, que é a nossa alma gêmea, jamais, jamais nos abandonará, porque ele vive e sempre viverá dentro do nosso coração.