sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Um Defeito Na Mulher


Quando Deus fez a mulher, já estava nas horas-extras de seu sexto dia detrabalho.Um anjo apareceu e lhe disse:- Por que gastas tanto tempo com esta? E o Senhor respondeu:- Você viu minha 'Folha de Especificações' para ela?- Deve ser completamente flexível, porém não ser de plástico, ter mais de 200 partes móveis, todas arredondadas e macias e ser capaz de funcionar com uma dieta rígida, ter um colo que possa acomodar quatro crianças ao mesmo tempo, ter um beijo que possa curar desde um joelho raspado até um coração ferido... 'O anjo se maravilhou com os requisitos.- E este é somente o modelo Standard? É muito trabalho para um só dia...Espere até amanhã para terminá-la, Senhor.- Não o farei, protestou o Senhor.- Estou muito perto de terminar esta criação, que é a favorita de Meu próprio coração. Ela já se cura sozinha, quando está doente e pode trabalhar 18 horas por dia. O anjo se aproximou mais e tocou a mulher.- Porém a fizeste tão suave, Senhor!- 'É suave', disse Deus, - porém a fiz também forte. Não tens idéia do que pode agüentar ou conseguir.- Será capaz de pensar? Perguntou o anjo.Deus respondeu:- Não somente será capaz de pensar, mas também de raciocinar e negociar, mesmo que pareça ser desligada ela prestará atenção em tudo o que for importante. Então, notando algo, o anjo estendeu a mão e tocou a pálpebra da mulher...- Senhor, parece que este modelo tem um vazamento... Eu Te disse que estavas colocando muitas coisas nela!- Isso não é nenhum vazamento... 'É uma lágrima ' , corrigiu-o o Senhor.- Para que serve a lágrima? - perguntou o anjo. E Deus disse:- As lágrimas são sua maneira de expressar seu amor, sua alegria, sua sorte, suas penas, seu desengano, sua solidão, seu sofrimento e seu orgulho. Isto impressionou muito ao anjo.- És um gênio, Senhor. Pensaste em tudo! A mulher é verdadeiramente maravilhosa!- Sim, ela é! Respondeu Deus.- A mulher tem forças que maravilham os homens. Agüentam dificuldades, carregam grandes cargas físicas e emocionais, porém, têm amor e sorte. Sorriem, quando querem gritar. Cantam, quando querem chorar. Choram, quando estão felizes e riem, quando estão nervosas. Lutam pelo que acreditam. Enfrentam a injustiça. Não aceitam 'não' como resposta, quando elas acreditam que haja uma solução melhor. Privam-se, para que sua família possa ter algo. Vão ao médico com uma amiga que tem medo de ir. Amam incondicionalmente. Choram quando seus filhos não triunfam e se alegram quando suas amizades conseguem prêmios. São felizes, quando ouvem falar de um nascimento ou casamento. Seu coração se despedaça, quando morre uma amiga. Sofrem com a perda de um ser querido, mas são ainda mais fortes quando pensam que já não há mais forças. Sabem que um beijo e um abraço podem ajudar a curar um coração ferido. Porém, prosseguiu o Senhor, há um defeito que não consegui corrigir: 'É que às vezes elas se esquecem o quanto valem.'
Desconheço a autoria.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

A Morte nossa de cada dia.

Certa vez alguém me disse – a morte não é o fim de tudo. Essa frase nunca saiu da minha cabeça e na medida em que os anos passam, ela ganho novos contornos de entendimento. Todos os dias morremos um pouco, mas também renascemos. Morremos quando pensamos em nossas vidas vazias, quando nos pegamos projetando um amanhã sem muito futuro. Morremos quando esquecemos nossos sonhos de infância, quando esquecemos a maravilhosa capacidade de regeneração que todos os organismos vivos possuem. Morremos um pouco quando permitimos que uma relação onde se acreditasse- um conto de fadas se transforme em um sentimento atroz. Morremos todos os dias por vários motivos. Porém a questão crucial não é a morte por obra do destino, mas sim o suicídio constante que cometemos no dia-a-dia. Tive uma amiga muito querida cuja morte deu-se a um Câncer de fígado. Os médicos constataram que a doença havia se espalhado rapidamente e não havia mais nada a fazer. Quando penso na história que essa pessoa tão especial teve na minha vida, percebo que o que lhe aconteceu foi um suicídio. Não teve armas, não teve drogas, mas teve tristeza, desilusão, amargura, sintomas que unidos a levaram a potencializar esse Câncer. Foi triste e é mais triste perceber que não estamos muito longe disso. Li um texto cujo título é Suicídio Saudável. O título pode parecer estranho, mas esse autor colocou alguns elementos que me fizeram pensar. Ele propõe uma troca – ao invés de matarmos nossos sonhos, nossas esperanças, nossos amores, nossos desejos talvez fosse mais interessante matarmos todas as coisas que impedem que tenhamos sonhos, realizações, esperanças, alegria, amor e paz. Realmente seria tão mais lógico e sensato matarmos todos os dias esse desamor que nos impede de ser feliz. Algumas pessoas se atolam em dívidas por inúmeras razões e depois pensam na morte como alternativa. Nesses casos deveríamos matar os sentimentos, a impulsividade que nos levam a ficarmos cheios de dívidas e não querermos mais viver. Outras sofrem muito com o final de um relacionamento e também pensa na morte como solução. Nesses dois casos e mais inúmeros outros, a alternativa escolhida é correta – a morte, mas o enfoque deve ser mudado. É natural e necessária a morte de tudo o que não nos serve mais. A impulsividade, a “baixa auto-estima”, o medo, a dor, o sofrimento. Seria maravilhoso se tivéssemos a capacidade de regeneração necessária para uma vida plena e melhor. O suicídio, a morte pode realmente ser uma solução. Alguns podem pensar que não existe amanhã porque sofremos na infância, todas as coisas foram difíceis e pelo menos 100 mil outras razões. Convém lembrar que todas as pessoas possuem histórias de vida muito semelhantes. Não existe um caso sequer de indivíduos que tenha nascido sem o estigma da dor. Todos nós, em menor ou maior grau sofremos sejam por dívidas, por relacionamentos, por medo, por doença. Todos sem exceção. A diferença pode ser apenas na forma como as pessoas lidam com a morte diária. Alguns fazem a opção de matar o melhor de si mesmo e assim transforma-se em indivíduos amargos. Outros decidem lutar e derrotar o pior de si mesmo e esses se tornam vencedores de um mundo constantemente em mutação. A morte não é o fim de tudo, mas pode significar um novo começo quando decidimos nos livrar de tudo que atrapalha nosso crescimento e impede que enxerguemos a aurora de um novo amanhecer.

domingo, fevereiro 10, 2008

A Mulher que perdeu seu amor




Hoje eu terminei um relacionamento de dois anos. Perdi um amor mas achei a mim mesma. Foi um relacionamento tão maravilhoso que me deu forças para saber o que realmente desejo numa relação. Mesmo sabendo que eu cresci, que eu me tornei um ser melhor, sinto muita dor. Mas as mulheres são muito fortes e acredito que somente quem amou realmente pode se ver como ser sensível e corajoso que é. Há muito tempo atrás lí esse texto de autoria de Artur da Távola, e ele(surpreendentemente um homem), conseguiu expressar tudo que uma mulher gostaria de ouvir quando ela perde seu amor. Compartilho com todas as minhas irmãs mulheres que ao longo dos anos, apesar do medo, da dor, da tristeza, conseguem seguir em frente e a cada dia ficam melhores.





A mulher que perdeu o seu amor é alguém de quem amputaram o ar e ela não morreu. Carrega a marca da amputação no ritmo da respiração e num certo modificar do olho. Fica pesado, mais manso e lento, nega-se a olhar o mundo, a rir, a ver cores. A mulher que perdeu o seu amor é alguém cujo riso virou soluço e a recordação faz-se suspiro.
A mulher que perdeu o seu amor é alguém com óculos de ver eclipse na alma. Fica com olhar de rinoceronte em olho de cambaxirra.
Estranho e lindo esse ar sofrente de que ficam todas as mulheres que perderam seu amor. É marca que as acompanha como ruga ou expressão, pelo resto da vida. Marca irreversível, chaga, cicatriz, verruga espiritual. Podem amar de novo, melhor até. Mas jamais deixará de doer uma pontinha daquele sentimento feito impossível e daquela esperança fermentada.
A mulher que perdeu o seu amor sofre mais do que a que (ainda) não pôde viver o seu amor. Esta vive a dor do que não tem. Aquela, vive a dor de já não ter. Quem não tem e quem ainda não tem sofre menos do que quem já não tem.O terrível é que a perda do amor é o preço inevitável e doloroso do pedágio pago para a estrada do conhecer-se. A mulher que perdeu seu amor é alguém que melhora depois, pois se descobre, abre a cabeça, os músculos, os poros. Começa a entender a vida, a ficar mais livre, a punir-se menos e a saber que vale algo.
Passado o luto moral, a fase da fossa, a fossa da fase, o fechado pra balanço, o balanço vem. A ferro e fogo, à amargura e desvario, mas vem. E traz uma visão melhor de si mesma e de tudo o que é e representa. Instala-se um saudável egoísmo e muito mais altruísmo, paradoxalmente.
A mulher que perdeu o seu amor é um paralítico que sai pra luta e nela se cura. Se o amor era a deliciosa cegueira, a perda dele ensina a ver no escuro. A ler nos solavancos do ônibus da vida, a aprender a lição das greves interiores, entender que é preciso melhorar mesmo sabendo que nunca mais será igual.
Mistura de vítima e ressureta , a mulher que perdeu seu amor é alguém muito lindo, porque é um ser com a delicadeza de sentir feita carne no açougue existencial, no qual pendura as suas verdades e ofertas: ali aquela angústia; no outro gancho, a lembrança daquela tarde; na vitrine aquele sorriso e a lembrança do momento em que se descobriu amando; no frigorífico aquela delicadeza interior não-entendida ou aquela falta de medo de sofrer; no gancho maior aquela capacidade de se entregar inteira.A mulher que perdeu o seu amor é linda não por sofrer, mas porque sofre por ter sabido ser feliz...
A mulher que perdeu o seu amor é uma mergulhadora preocupada com a beleza e a entrega do salto sem a preocupação de saber se há água embaixo. A capacidade de amar o salto e o vôo fá-la merecedora de ternura e admiração. Enamorada, ela fica pássaro. Abandonada, ela vira gente melhor. Terrível disjuntiva!
Ah, se fosse possível dizer para cada mulher que perdeu o seu amor que mesmo sofrendo assim, valeu a pena! Que a dor vai passar e com cicatrizes ela será melhor e mais bonita amanhã, amará melhor o seu amor, aquém redescobrirá sem hipnose e a quem valorizará ainda mais porque capaz de o sentir e viver sem cobrar, exigir ou sofrer.
Ah, se fosse possível nada lhe dizer e apenas oferecer o ombro para que no ninho dele se sinta protegida e segura, porque a mulher que perdeu seu amor é a criança em busca dos pais, da casa. É a menina fugindo do bicho-papão que existe e assusta, mas que some e se dissolve se há proteção sincera. Por uma estranha disposição do carinho humano, a mulher que perdeu o seu amor é sempre chamada por diminutivo ou pelo apelido carinhosos por quem a consola. Ela fica criança na ante-sala do amadurecer.
A mulher que perdeu o seu amor é , por fim, alguém que descobre seu erro e delírio para crescer no acerto doloroso de se saber incompleta e imperfeita, por isso mais mulher.
Ela era melhor e saiu perdendo. Piorou. Mas ficou pior para sair ganhando, logo, melhorou graças à piora, nessa eterna dialética do ser no sentido da integração. A mulher que perdeu o seu amor é o enigma encarnado.
A mulher que perdeu o seu amor traz, ademais, essa grande lição de vida: é capaz de contemplar o nunca mais, de frente e , ainda e uma vez, dizer-se, sonhando: pode ser.
E sempre pode. Tudo começa outra vez.
Para ficar com a própria verdade talvez seja necessário perder um amor que não corresponda a verdade profunda do ser.
Texto de Ártur da Távola"