Na tarde de quinta feira
(20/06/2013), antecedendo o protesto que já se previa multitudinário na capital
gaúcha, ocorreu a invasão mediante arrombamento do Ateneu Libertário A Batalha
da Várzea, executado por agentes policiais sem identificação. Devido a isto, no
comunicado da madrugada de sexta-feira, dia 21 de junho, informamos que a
invasão havia sido realizada pela Polícia Federal, afinal de contas assim se
apresentaram os agentes da repressão.
Através da coletiva concedida
pela cúpula da Segurança Pública do governo do RS, na tarde da sexta-feira, dia
21 de junho tivemos a informação que tal operação foi realizada de fato por
agentes da Polícia Civil, omitindo-se o fato de que a operação se deu de forma
ilegal, sem o correspondente mandato judicial, conforme o apurado pela
assessoria jurídica que nos apóia nesse momento, de forma solidária.
Esta coletiva de imprensa
portanto não poderia anunciar outra coisa se não uma farsa,na busca de um bode
expiatório para responsabilizar pelas manifestações de violência ocorridas nos
protestos de forma generalizante, acusando que todos os atos de depredações e
“vandalismos” fossem de responsabilidade dos anarquistas presentes nos
protestos e especificamente dessa organização política, como já dito
anarquista.
O fantasma atemorizante criado
nas redações da RBS: a presença de bandeiras anarquistas, grupos e indivíduos
punks e o já folclórico devaneio do âncora da RBS Lasier Martins “mascarados
anarquistas” deram a tônica da conspiração em curso. Apresentaram-se “provas”,
segundo a polícia nessa operação ilegal, de materiais para confecções de
coqueteis molotovs e um mapa com a identificação de órgãos de segurança do
Estado, com o quê buscam afirmar que planejávamos desatar ataques.
Além de tais objetos plantados, a
coletiva para a mídia corporativa retira a sua máscara e demonstra a farsa em
curso, o real objetivo da operação. Segundo o próprio chefe da Polícia Civil, o
delegado Ranolfo Vieira Jr. “é importante dizer que nesse local também foi
apreendido vasta literatura, eu diria assim, a respeito de movimentos
anarquistas.” Considerando que os geniais homens da “inteligência” invadiram
uma biblioteca libertária, é natural que achem livros senhores Ranolfo e Tarso
Genro. Não sabíamos que uma literatura anarquista, tanto atual como histórica,
constitui prova de crime. Desde quando livros estão proibidos em nosso estado?
Sim, isto é verdade, levaram muitos livros e o fichário dos usuários da
biblioteca do Ateneo, dos quais exigimos a restituição em nossas prateleiras.
Dentre os “perigosos” livros
apreendidos, consta a obra Os Anarquistas no Rio Grande do Sul, de João Batista
Marçal. O livro foi editado com apoio da Secretaria de Cultura de Porto Alegre
no ano de 1995, justo no período em que Tarso Genro era prefeito! Quem faz a
introdução é Luiz Pilla Vares e a apresentação é de Olívio Dutra. Ou seja, se
publicar livros anarquistas é crime ou ato suspeito, o atual governador já
ajudou nesta ação “perigosa”.
Voltou a Censura no Brasil? Ou só
no Rio Grande do Sul? O Ateneo Libertário A Batalha da Várzea localizado na
Travessa dos Venezianos é um espaço público, de fato uma biblioteca, como já
dito, na qual se organizam várias atividades políticas e culturais, em muitas
delas inclusive com a participação da vizinhança local. Usamos também instrumentos
musicais, teatro, tintas, pincéis, sprays para expressar através das artes
nossas críticas e nossos anseios, enfim nossa ideologia. Quando nos apropriamos
de palavras, as usamos para expressar idéias, estas armas perigosíssimas!.
Quando tornaram-se criminosas as idéias dissonantes do status quo?
Além dos “perigosos” livros, a
repressão política do RS afirma ter encontrado material inflamável. Sabemos que
qualquer objeto além de um botijão de gás foi plantado com o objetivo de
incriminar e isolar, a partir da repressão e da guerra psicológica, nossa
corrente libertária e combativa, do atual cenário político. Começou com os
factóides plantados pela RBS, onde aparecíamos como elementos “sociopatas” que
planejam desatar inúmeras operações de guerrilha na cidade. Ora, precisamos de
gás para aquecer a água pro mate.
Quanto ao mapa citado pelos
chefes do aparato repressivo do estado, sob responsabilidade do governador,
afirmamos aqui com veemência que não sabemos do que se trata, considerando ser
essa operação ilegal, não há dificuldades em supor que seja algo “implantado”
numa tentativa clara de nos criminalizar.
Reconhecemos sim e muito bem
outro mapa, o da cidade de Porto Alegre, sua periferia e centro, porquê é aqui
que vivemos e lutamos junto aos diversos setores das classes oprimidas,
organizados ou não, socialistas ou não, enfim, o povo organizado contra a
dominação e por melhorias nos serviços públicos e contra as retiradas de
direitos conquistados pela luta popular em curso, com suas vitórias e derrotas
há mais de um século. Aqui estamos há 18 anos, de forma pública, com bandeira,
endereço e publicações tanto impressas como virtuais.
Participamos dos movimentos
populares, estudantil, sindical, comunitário, nas rádios comunitárias, no bloco
de lutas pelo transporte público, enfim, nas lutas sociais que somos chamados a
pelear ou solidarizarmos. Já somos conhecidos sim, pelas policias, pelos
movimentos sociais também pelos partidos políticos, inclusive por vários
setores do PT e demais que compõem a base do atual governo de turno no RS
porque de fato existimos e nunca nos furtamos a pelear.
Logo após a divulgação da
operação da Polícia Civil o governador Tarso Genro se apressou a nos atacar da
forma mais vil e covarde possível. Ansioso por nos golpear, Tarso nos associou
ao fascismo, conclamando as organizações da esquerda a reverem suas políticas
de aliança de forma a nos isolar. “— Todos os partidos e pessoas, inclusive os
de ultra-esquerda, tem de ajudar a combater isso. Ninguém sobrevive a isso. Todos
sucumbem. O caminho é aquele que nós já conhecemos e causou a Segunda Guerra
Mundial” Assim se pronunciou o histórico dirigente do PT e governador do Estado
Tarso Genro. Aliás, assim se pronunciou o ex-dirigente do Partido
Revolucionário Comunista (PRC), irmão de um dos maiores teóricos marxistas do
Brasil (Adelmo Genro Filho) e ele mesmo um ex-militante com dezenas de
conflitos contra a repressão. Mas isso foi no século passado, não é governador?
Diante da absurda acusação de que
somos fascistas, sugerimos aos assessores do palácio e aos agentes dos serviços
de inteligência uma rápida pesquisa sobre as inconformidades ideológicas e
históricas do que afirma o governador, pois historicamente combatemos o
fascismo, existem correntes libertárias que dedicam-se exclusivamente a isto,
sobretudo na Europa. Aos senhores jornalistas, lhes sugerimos ainda uma
pesquisa sobre a resistência ao fascismo na Espanha e França no contexto da
ascenção de Hittler e Mussolini sobre a Europa assim como sobre o episodio de
07 outubro de 1934, na Praça da Sé, em São Paulo, quando a épica coluna
operária, formada sobretudo por anarquistas deu combate aos integralistas de
Plínio Salgado da AIB (Ação Integralista Brasileira), no fato conhecido como “
a revoada das galinhas verdes”. Fomos e seremos sempre os primeiros nas
fileiras de combate a qualquer forma de totalitarismo, sejam eles stalinistas,
fascistas ou de qualquer outra natureza. Ser anarquista não é crime.
Já que o senhor Tarso se
demonstra tão preocupado com o avanço do fascismo, lhe indagamos: Organizar uma
biblioteca pública com foco em literatura anarquista e obras diversas é um
crime? Se nossos livros estão sendo apresentados como provas de crime segundo
as declarações da cúpula de segurança pública, o que pretendem o senhor Tarso e
demais autoridades do estado com isso? Vão fazer como os fascistas e queimar
nossos livros em praça pública? Proibir a impressão e venda de títulos
relacionados ao anarquismo? Realizar incursões em residências a busca destes
títulos, dado o caráter “inflamável” de tal literatura?
Reconsidere suas palavras senhor
Tarso, pois são estas operações policiais, sob sua responsabilidade, que afinal
se mostram vinculadas a uma prática de perseguição de idéias libertárias,
portanto terminam por apoiar práticas que cheiram fascismo. Lembramos ainda que
há sim grupos nazistas em Porto Alegre, os quais estavam armados com facas no
último protesto do dia 20 de Junho, circulando livremente sem a correspondente
repressão que nos dedicam, procurando os anarquistas da FAG. O que lhes parece
que queriam, seguramente não era pra debater a conjuntura não é? Quanto a isto
o que farão os responsáveis pela segurança pública. Livros não são crime!
Sabemos que a meta do governo
estadual é política. O objetivo de toda essa guerra psicológica é semear
pânico, isolar-nos do cenário e assim pavimentar o caminho para a sanha
repressiva em direção de nossa organização e seus militantes.
Por fim, reafirmamos que não iremos nos dobrar a mais essa investida. Desde o início do ano estamos sendo alvejados pela repressão, ainda que até então ela não tenha nos atingido com tamanha intensidade. No início de abril, logo após um massivo ato contra o criminoso aumento das passagens de ônibus, que reuniu mais de 10 mil pessoas nas ruas de Porto Alegre, tivemos nosso site retirado do ar. Na verdade, o domíniowww.vermelhoenegro.org simplesmente sumiu, assim como seus domínios espelhos. Esta censura que segue vigente, fazendo com que encontremos espaços alternativos para divulgar nossas opiniões.
Por fim, reafirmamos que não iremos nos dobrar a mais essa investida. Desde o início do ano estamos sendo alvejados pela repressão, ainda que até então ela não tenha nos atingido com tamanha intensidade. No início de abril, logo após um massivo ato contra o criminoso aumento das passagens de ônibus, que reuniu mais de 10 mil pessoas nas ruas de Porto Alegre, tivemos nosso site retirado do ar. Na verdade, o domíniowww.vermelhoenegro.org simplesmente sumiu, assim como seus domínios espelhos. Esta censura que segue vigente, fazendo com que encontremos espaços alternativos para divulgar nossas opiniões.
Situação semelhante também
ocorreu em novembro de 2009, quando nossa antiga sede foi invadida pela mesma
Polícia Civil, a mando do então governo Yeda Crusius (PSDB) em função de um
cartaz onde responsabilizávamos politicamente a governadora e o oficial da
Brigada Militar no comando do campo de operações pelo assassinato do colono
Elton Brum da Silva, em 21/08/2009. O militante sem terra foi morto a sangue
frio e a queima roupa por um tiro de calibre 12, enquanto protegia as crianças
em uma desocupação de terra na campanha de São Gabriel. Naquela ocasião, por
fazermos a denuncia e darmos solidariedade também tivemos nosso site censurado
e ainda hoje 06 companheiros/as de nossa organização seguem respondendo
processo judicial, no qual seguimos reafirmando que Yeda e o comando da BM
foram os responsáveis diretos pelo assassinato de Elthon Brum!
Assim como não nos dobramos a
repressão vil do governo Yeda, tampouco iremos nos dobrar a repressão do
governo Tarso, que busca isolar a esquerda combativa de forma a atacá-la com
maior contundência sob os aplausos e gargalhadas dos setores mais reacionários
de nosso Estado e país. Tarso, ex-comunista, ex-dirigente revolucionário, mudou
de lado e hoje é uma caricatura torta do militante que pretendia ser nos anos
’70 do século passado. Hoje se porta de maneira servil diante da RBS. Para
“defender” o papel simbólico da empresa líder na comunicação social, orienta a
Brigada Militar a atacar os manifestantes quando passam do outro lado do Arroio
Dilúvio, em uma avenida de seis pistas! Não foram os anarquistas que lideraram
a linha de frente da marcha da ultima quinta feira em direção a ZH. Choveu
bombas de gás e balas de borrachas sobre as cabeças com caras pintadas de verde
e amarelo e flores nas mãos. A imagens dos protestos da última semana em Porto
Alegre têm a marca das bombas da BM lançadas contra o povo ordeiramente em
marcha na direção da Zero Hora.
Enfim, esse é o caminho pelo qual
trilham, invariavelmente, as políticas de pacto social. A história já nos
demonstrou de forma clara, basta olharmos a social democracia alemã e sua caça
aos conselhos operários sob influência dos então spartarkistas, delegados
revolucionários e também de muitos anarquistas. Caçada essa que levou a
ostensiva perseguição de valorosos militantes da classe trabalhadora alemã,
como Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht e Gustav Landauer, este último militante
de nossa corrente anarquista. Todos eles presos e assassinados a coronhadas
pelas forças de repressão da social democracia. Todos estes militantes serviram
de bode expiatório para as políticas de conciliação de classe, que, somadas com
a inércia decisória, levaram ao caos e ao nazi-fascismo. Governador, conforme
foi dito, se nós estivéssemos à beira da 2ª Guerra Mundial, seríamos milicianos
espanhóis, resistentes franceses ou partigianos italianos. Já o senhor, de que
lado estaria? De que lado está agora?
A FAG, com 18 anos de história e
vida pública e permanente atuação em diversas das lutas sociais em nosso estado
e país, é parte de um legado histórico de uma corrente que há quase dois
séculos levou às últimas conseqüências o combate a reação, as classes
dominantes e seu Estado lacaio. Sim temos relações internacionais e estas
surgiram em 1864, na 1ª Associação Internacional dos Trabalhadores, AIT. Todas
as correntes do socialismo têm relações com agrupações afins em diversos
países. Todas as vertentes do socialismo são internacionalistas, ou o
ex-dirigente do PRC também considera isso um crime? Se hoje no país os
trabalhadores têm assegurados alguns direitos, estes são fruto de 40 anos de
luta sindical antes de 1932. Esta luta era mobilizada por sindicatos livres,
desvinculados de partidos políticos, e os organizadores eram militantes anarquistas.
O anarquismo é parte da luta popular no Brasil e no Rio Grande do Sul e
continuará sendo. Nossa organização ajuda a organizar a luta pelo direito à
mobilidade urbana, pelo passe livre e redução dos preços das passagens. Somos
parte integrante do Bloco de Luta pelo Transporte Público desde sua fundação,
assim como militamos e participamos em diversas frentes de lutas sociais, como
Movimento Sem Terra, Rádios Comunitárias, Sindicatos, Movimentos Estudantis, de
Luta pela Moradia, Comunitário, somos linha de frente na luta pela diversidade
e desde o começo nos Comitês Populares da Copa.
A nossa história,
“excelentíssimas autoridades” é escrita com o sangue e suor das barricadas dos
oprimidos e assim sempre será. Vossa sanha repressiva nunca será capaz de nos
calar. Não tememos as hienas e nem a fábrica de mentiras da RBS! A verdade fala
mais alto entre os militantes do povo. Somos militantes de esquerda não
parlamentar, militantes populares e não terroristas. Terrorista é quem joga
bombas contra dezenas de milhares de pessoas caminhando desarmadas. Tarso
Genro, RBS e oligarquia gaúcha, sua campanha difamatória tem pernas curtas e a
mentira não passará.
Não tá morto quem peleia!
Federação Anarquista Gaúcha, 22
de junho de 2013